26 de fevereiro de 2009

O[dor]

Odiava aquele cheiro
Mas ele lembrava o velho carro de meu pai
Os estofados semi-coloridos.
A cor de chumbo escuro desgastada.
A neblina sobre a casa e as correntezas do riacho.
Tudo com tanta vida.
Até o dia em que meu querido pai tornou-se viúvo.
Dali em diante, todas as coisas tinham cor de sépia.
Tudo se encontrava morto.
Ela tinha sido tão generosa... A vida é que não foi.
Os dias passaram a ter mais horas, os meses mais dias e os anos mais meses, chegando a parecer-me séculos.
Em meio a tanto desgaste, o que restava era aquele baú acinzentado, onde eu podia guardar minhas lembranças e recordações.
Lá estavam o sorriso não dado e o abraço desfeito.
Alguns trapos, umas pérolas e folhas secas de erva-cidreira.
Na verdade, o cheiro que poderia sentir era de camomila.
O cheiro dela.
Em um rápido e sutil fechar de olhos, poderia sentir sua presença, acariciando meus cabelos.
Ilusão.
Só o que eu poderia ter seu de verdadeiro era aquele retrato amarelado e aquela fita branca de cetim.
Não se esquecendo daquela grande ferida que agora estava por se cicatrizar.
Do dia em que meu pai me bateu.
O dia do seu adeus.

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